O quê esperar da saudade
daquela que anda a ver
o tempo passar na relatividade
da eternidade que não está a chegar?
O quê esperar do sentimento
ressentido por não estar vivido
entre a (des)conhecida distância
que impede o olhar, o degustar, o cheirar, o escutar e o tocar?
O quê esperar dos olhos
ao ver aquela beleza angelical
que o tempo e o cogito
lograram para o encontro?
O quê esperar da boca
ao tocar aqueles lábios desejosos
durante o estalar das línguas
nesse vaidoso embate?
O que esperar do nariz
ao se embriagar com o perfume do corpo
envolto a um eau efervescente
numa hipnose extasiante?
O quê esperar dos ouvidos
ao escutar aquela suave e doce voz
falando e cantando
da beleza do passar o dia e do pulsar da vida?
O quê esperar do tato
quando as mãos tenazes e trêmulas
cruzarem tua silhueta
traduzindo o selvagem caminho do teu corpo?
Não sei o quê esperar.
Quem sabe o eterno, e não o fugaz,
Quem sabe o fruto, e não o furto,
Quem sabe o viver, e não o morrer.
A única certeza que tenho:
é que a saudade eu quero afogar
te sentindo em todos os sentidos.
AMatzenbacher