terça-feira, 23 de agosto de 2011

VERSOS ÍNTIMOS

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável.

Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma teu fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos

2 comentários:

  1. Quem pagará o enterro e as flores
    Se eu me morrer de amores?
    Quem, dentre amigos, tão amigo
    Para estar no caixão comigo?
    Quem, em meio ao funeral
    Dirá de mim: - Nunca fez mal...
    Quem, bêbedo, chorará em voz alta
    De não me ter trazido nada?
    Quem virá despetalar pétalas
    No meu túmulo de poeta?
    Quem jogará timidamente
    Na terra um grão de semente?
    Quem elevará o olhar covarde
    Até a estrela da tarde?
    Quem me dirá palavras mágicas
    Capazes de empalidecer o mármore?
    Quem, oculta em véus escuros
    Se crucificará nos muros?
    Quem, macerada de desgosto
    Sorrirá: - Rei morto, rei posto...
    Quantas, debruçadas sobre o báratro
    Sentirão as dores do parto?
    Qual a que, branca de receio
    Tocará o botão do seio?
    Quem, louca, se jogará de bruços
    A soluçar tantos soluços
    Que há de despertar receios?
    Quantos, os maxilares contraídos
    O sangue a pulsar nas cicatrizes
    Dirão: - Foi um doido amigo...
    Quem, criança, olhando a terra
    Ao ver movimentar-se um verme
    Observará um ar de critério?
    Quem, em circunstância oficial
    Há de propor meu pedestal?
    Quais os que, vindos da montanha
    Terão circunspecção tamanha
    Que eu hei de rir branco de cal?
    Qual a que, o rosto sulcado de vento
    Lançará um punhado de sal
    Na minha cova de cimento?
    Quem cantará canções de amigo
    No dia do meu funeral?
    Qual a que não estará presente
    Por motivo circunstancial?
    Quem cravará no seio duro
    Uma lâmina enferrujada?
    Quem, em seu verbo inconsútil
    Há de orar: - Deus o tenha em sua guarda.
    Qual o amigo que a sós consigo
    Pensará: - Não há de ser nada...
    Quem será a estranha figura
    A um tronco de árvore encostada
    Com um olhar frio e um ar de dúvida?
    Quem se abraçará comigo
    Que terá de ser arrancada?
    Quem vai pagar o enterro e as flores
    Se eu me morrer de amores?
    (V de Moraes)

    com todo carinho meu!

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  2. bah Érica, show!
    E quantas vezes morre(re)mos?!
    bjo e obrigado guria!

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