terça-feira, 30 de novembro de 2010

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Para uma segunda-feira à noite, chuvosa ou não




Almost blue
Almost doing things we used to do
There's a girl here and she's almost you
Almost
All the things that your eyes once promised
I see in hers too
Now your eyes are red from crying

Almost blue
Flirting with this disaster became me
It named me as the fool who only aimed to be

Almost blue
It's almost touching it will almost do
There's a part of me that's always true... always

Not all good things come to an end now, it is only a chosen few
I have seen such an unhappy couple

Almost me

Almost you

Almost blue


"Almost Blue", by CHET BAKER.

domingo, 28 de novembro de 2010

já vi mendigos demais com os olhos vidrados bebendo vinho barato debaixo da ponte


você se senta comigo
no sofá
neste noite
nova mulher.

você já viu os
documentários
sobre animais carnívoros?

eles mostram a morte.

e agora me pergunto
que animal entre
nós dois
devorará
primeiro o outro
física e
por fim
espiritualmente?

nós consumimos animais
e então um de nós
consome o outro,
meu amor.

enquanto isso
prefiro que você vá
primeiro e do primeiro jeito

se os gráficos de performance passadas
significarem alguma coisa
eu certamente irei
primeiro e do último
jeito.


Do livro do mês, "O AMOR É UM CÃO DOS DIABOS", de Charles Bukowski.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O amor e seus contratos



Tanto nas juras mais vivas
como nos beijos mais longos
em que perduram salivas
de outras paixões ainda ativas,
sopro de angolas e congos,
eu sinto a turva incerteza
(ai, ouro de tredas lavras)
de enovelada surpresa
que põe tanto de estranheza
nos contratos que tu lavras.

Por mais que no teu falar
brilhe a promessa incessante
de um afeto a perdurar
até o mundo acabar
e mesmo depois - diamante
de mil prismas incendidos,
amarga-me o pensamento
de serem pactos fingidos
e nos seus subentendidos
não vi, Amor, valimento.

Experiência de escrituras,
eu tenho. De que me serve?
Após sofridas leituras
de ementas e de rasuras,
no peito a dúvida ferve,
se nos mais doutos cartórios
de Londres, Londrina, Lavras
para assuntos amatórios,
teus itens são ilusórios,
só palavras e palavras.

As nulidades tamanhas
que te invalidam o trato
não sei se provêm de manhas
ou de vistas mais estranhas.
Serão talvez teu retrato
gravado em vento ou em sonho
como aéreo documento
que nunca mais recomponho.
São todas - digo tristonho -
feitas de sonho e de vento.
 
Carlos Drummond de Andrade, in "Corpo".


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Viver tem que ser perturbador


Sempre desprezei as coisas mornas, as coisas que não provocam ódio nem paixão, as coisas definidas como mais ou menos, um filme mais ou menos, um livro mais ou menos. Tudo perda de tempo.
Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoração ou seu desprezo.
O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia.


Martha Medeiros, in "Divã".

domingo, 21 de novembro de 2010

Dos cuerpos


Dos cuerpos frente a frente
son a veces dos olas
y la noche es oceáno.

Dos cuerpos frente a frente
son a veces dos piedras
y la noche desierto.

Dos cuerpos frente a frente
son a veces raíces
en la noche enlazadas.

Dos cuerpos frente a frente
son a veces navajas
y la noche relámpago.

Dos cuerpos frente a frente
son dos astros que caen
en un cielo vacío.

Octavio Paz, in "Bajo tu clara sombra" (México).

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

tríade


A paixão é vivida na irracionalidade.



Já o amor, só pode ser vivido se racionalizado.


AMatzenbacher

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Manha


Homem tem atitudes suspeitas e superstições incontroláveis. Gosta de brigar por mais que desminta e alerte que não suporta discussões. A provocação é uma prova de intimidade. A gente agride apenas quem é capaz de nos perdoar.
Ao contrário do que as mulheres insistem em comentar, o homem não é linear - tentamos preservar essa reputação para não nos complicar. Não fará testes para conferir se é amado ou se é gostoso ou se transa bem ou se vem sendo correspondido, justo porque não aceita o fracasso. Colaria as respostas invertendo a página.
Ele não pergunta toda hora se ela realmente o ama, o que não significa que não é inseguro. Não cria beiço durante o desaforo por pura falta de prática, logo desliza na careta.
Os testes masculinos são de outra ordem. Daquilo que posso chamar de terrorismo psicológico. Quando sua namorada se arruma para sair, por exemplo.
O homem fica enervando, apressado, controlando o tempo, segurando a maçaneta, não é?
A mulher demora uma hora para escolher a roupa após experimentar todas as possíveis combinações da estação outono-inverno. Coloca batom, blush, rimel, seca os cabelos, arruma as dobras do tecido, dança abraçada ao armário, deita, senta, retoma um casaco, troca a saia. E finge não ouvir seu namorado recordando do atraso.
E o homem não cansa de avisar do compromisso em poses ansiosas. De pé na sala, sentado em meia cadeira, debruçado na mesa. Teimando. Arfando.
O exame não é esse jogo previsível de cobrança. Surge na saída, num golpe fatal de paciência.
No momento em que ela confirma que está pronta, ele - que até agora a empurrava para a rua - começará a empurrar de volta ao quarto com estranhas carícias. Com beijos mais longos. Pegará a cintura dela com ardor e firmeza. Fechará a porta com os pés. Ela não compreenderá a mudança de atitude. Poderá lamentar:
- Não estamos atrasados?
- Sim, bem atrasados - ele responderá com uma calma histérica.
A epopeia da produção será desmanchada em segundos. Com a violência implacável dos lábios e a curiosidade indiscreta das mãos.
Se ela deixar, o homem vai concluir que é o mais amado, o mais gostoso, o mais correspondido, e somará os pontos a seu favor de todas as revistas femininas nas bancas daquela semana.
Não que deseje transar naquele instante, de repente nem tem vontade. Ele somente quer testar sua mulher. Homem é ambicioso no amor, diferente do que dizem por aí. Chega a ser ganancioso.
Quer que sua mulher se arrume para ele, e se desarrume e se arrume outra vez. Para cobrar novamente o atraso.

Fabrício Carpinejar, in "Mulher Perdiguiera".

domingo, 7 de novembro de 2010

"Esqueça" um livro em 08/11


Vi no BLOG da Lú (Mil Faces de Luíza) e depois no BLOG da Vanessa (Vem cá Luísa, em dá tua mão...), e, mesmo sendo difícil abrir mão de um bom livro, vou aderir ao movimento. Portanto, aqui em Rondônia, alguém encontrará um livro que "era" meu! 

"Li algo esta semana no blog Tantos Caminhos que achei muito bacana.
A ideia é esquecer um livro amanhã, 08/11, em algum lugar público. Dentro do livro deve constar um bilhetinho, explicando que o livro foi esquecido justamente para que algum leitor encontrasse-o. Após este leitor ler, deve fazer o mesmo - aí é um pouco mais difícil de saber se deu certo...
Palavras da Isa do Tantos Caminhos: 'E aí, o que vocês acham? Topam participar? Então dia 08/11 fica instituído o dia em que um pequeno grupo de pessoas ajudou a levar um pouco de boa leitura as pessoas. Divulguem em seus blogs, fotografem o livro esquecido, façam um post comentando como foi, deixem um comentário nesse post, simplesmente esqueçam o livro. O importante mesmo é que possamos levar um pouco de boa leitura a outras pessoas'.
Eu adorei a ideia e vou aderir. Amanhã alguém há de encontrar um livro meu por aí...
Depois divido com vocês a experiência".
 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Cantiga para não morrer



Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.


Ferreira Gullar, in "Dentro da Noite Veloz".