quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Será que as coisas são o que são? Ou conseguimos ver além. Ou nos iludimos com o desejo inconsciente.
XXIV
O que nós vemos das coisas são as coisas.
Porque veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Porque é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhe chamamos estrelas e flores.
FERNANDO PESSOA, por Alberto Caeiro, in "Obra Poética II".
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário