segunda-feira, 26 de setembro de 2011

olhar de um domingo qualquer


Ele estava num shopping  center, na metade da tarde, acompanhado de seus próprios pensamentos sem em nada pensar, só andando até chegar na cafeteria mais próxima para um expresso, quando no meio dessa caminhada, passando pela frente de uma sorveteria, ela o parou. Havia grande movimento, pessoas entrando nas lojas e saindo com sacolas de compras, uma criança corria dos pais para encontrar uma tia, outra para entrar na loja de brinquedos, pais na cafeteria, casais seguiam de mãos dadas para o cinema, crianças brincando no playcenter, um avô lendo o jornal, adolescentes tomando sorvete, um casal de idosos conversando, um casal de jovens namorados selava a fidelidade com um beijo, o segurança observada a tudo atenta e pacificamente, afinal era domingo, e os seres humanos geralmente não demonstram preocupações aos dias subsequentes aos sábados, queriam apenas deixar as horas passar ou simplesmente aproveitá-las. E com tantos estabelecimentos que tem dentro de um shopping center, com tantas milhares de pessoas que circulam diariamente por ali, entre tantas horas de funcionamento todos os dias da semana, os caminhos deles se cruzaram. E essas ruas já tinham se tocado antes, com rápidas e simples trocas de olhares sem palavras... Mas neste dia, não foi que ele simplesmente a viu, ou que ela simplesmente o tenha visto. Não foi nada disso que os expectadores conseguiram captar, porque não foi uma simples visão de uma linda mulher, assim como não foi um simples passar de olhos interessado dela por ele. Não foi uma encarada recíproca. E também não foi um mero cruzar de olhares. Foi o encontro. O encontro do olhar. O olhar contido dentro do ver. Aquele olhar forte e penetrante que aproxima, que despe a atração guardada, que declara a pura vontade de se coonhecerem e a nudez do querer. Ela o olhou direta e profundamente nos olhos, e só nos olhos, e ele também, somente a olhou nos olhos, selando o encontro e revelando aquela intensidade da surpresa tão agradável que contém num desses momentos. Segundos. Eternidade. Lembrança que não sai, mas fica. Sentir que dá razão ao sorrir. Finalmente, eles estavam ali, juntos. E de repente, não mais do que de repente, abaixando a cabeça como a espada de um guerreiro pronto para atacar, ela encerrou o encontro, criando o desencontro. Um outro alguém lhe segurou a mão...

AMatzenbacher

PS: De fundo, o solo da música “lovesong” by Adele.

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