sábado, 3 de setembro de 2011

somente o tempo...


CREONTE - Mas não! Procura entender o meu caso. Reflete primeito nisto: acreditas que alguém preferiria reinar no temor constante em vez de dormir tranquilo desfrutando do mesmo poder? Não nasci com o desejo de ser rei, mas sim de viver como um rei. E assim todo aquele dotado de razão. Hoje, obtenho tudo de ti, sem que me custe nenhum temor: se eu mesmo reinasse, quantas coisas teria de fazer contra a minha vontade! Como então eu poderia achar o trono preferível a um poder, a uma autoridade que não me traz nenhuma preocupação? Não me iludo a ponto de desejar mais do que honraria e proveito. Sinto-me hoje à vontade com todos, todos me cumprimentando, os que têm necessidade de ti vêm antes conversar comigo: para eles, o suecesso está assim garantido. E eu trocaria isto por aquilo? Jamais tive gosto por tal idéia. E tampouco aceitaria aliar-me a quem agisse assim. Se queres a prova, vai a Delfos e pergunta se te transmiti exatamente o oráculo. Se então puderes provar que conspirei com o adivinho, manda-me matar: não apenas tua voz me condenaria, mas nossas duas vozes, a tua e a minha. Não venhas porém, por uma simples suspeita, incriminar-me sem ter-me ouvido. Não é justo tomar levianamente os maus pelos bons, os bons pelos maus. Rejeitar um amigo leal é na verdade privar-se de uma parte da vida própria vida, isto é, daquilo que mais se preza. Mas é preciso tempo para compreender isso de maneira segura. Somente o tempo é capaz de mostrar um homem honesto, enquanto basta um dia para desmanchar um traidor.


Do livro do momento, "ÉDIPO-REI", de Sófocles.

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